terça-feira, 11 de maio de 2010
As aventuras de Talita e Paula
A aventura começou antes mesmo de pegar estrada.
Decidimos viajar de última hora. Tivemos como referência um DVD sobre a Turquia do Amaurir Júnior, fotos do Google Image e o Google Earth. Era a nossa última semana no país, talvez nossa única oportunidade e não queríamos perder nem um minuto que fosse.
Tínhamos poucas horas para arrumar as malas e ir pra rodoviária. Mas não nos demos conta disso até aproximadamente 2h antes de embarcar.
Decidimos levar uma mochila cada uma. Com as coisas mais básicas possíveis, só trocaríamos roupas íntimas e as blusas por baixo do casaco. Não tínhamos idéia do nosso percurso e não queríamos levar peso.
Passamos na casa da Paula, colocamos tudo dentro da mala dela no menor tempo possível. Pegamos o ônibus de volta até o centro. O problema era que a minha casa era em sentido oposto. Encontraríamos minha "host mãe" às 9h no shopping e ela nos levaria até a rodoviária, mas já eram 8h35 e só tínhamos R$30,00. Mesmo assim, nossa única alternativa era pegar um taxi.
O taxista queria nos cobrar 40, choramos, jogamos toda a lábia que nos foi possível no nosso inglês-turco-brasileiro, oferecemos 30 e ele aceitou. Fomos batendo papo, a pesar dele só falar turco, mas até que foi uma conversa agradável. Quando chegamos na minha casa, jogamos aquela conversa de que só iríamos pegar uma coisa e voltar pro mesmo lugar e o taxista, solícito que só ele, falou que nos esperaria e nos levaria de volta sem cobrar nada a mais. Saímos correndo feito loucas, colocando tudo dentro da minha mochila e saindo com um monte de coisas na mão.
Chegamos no shopping às 9h20 e minha "mãe" já estava nos esperando. Mas ainda tinha um pequeno detalhe: tínhamos gastado nossos últimos trocados com o taxi. Procuramos um caixa eletrônico, mas todos que encontramos não funcionaram. E claro, não contamos isso pra minha mãe, se não pareceríamos duas brasileiras, loucas, atrasadas e irresponsáveis [oi?].
Chegamos na rodoviária e pra completar o guichê não aceitava cartão de crédito. Procuramos outro caixa eletrônico e por sorte conseguimos sacar dinheiro.
Compramos a passagem, nos despedimos da minha host mother e fomos lanchar porque sim, não tínhamos comido até aquela hora. E claro, tivemos que correr com pães com salsicha e latinhas de ayron pelos corredores da rodoviária para não perdermos o ônibus.
Lição do dia: arrumar as malas com antecedência, não confiar em caixas eletrônicos e andar sempre com dinheiro na carteira.
Nosso primeiro destino foi Capadócia. 9h de viajem até lá. Passamos a noite dormindo e fomos acordadas por um belíssimo nascer do sol no caminho.
Uma das poltronas não inclinava, e estávamos morrendo de dores pelo corpo. Uma vantagem do ônibus na Turquia é o serviço de bordo, com bolos, bebidas e café da manhã.
Chegamos em Capadócia umas 10h. O que não sabíamos era que Capadócia não era uma cidade em si, mas um lugar cheio de vilas, e você tinha que escolher uma delas. Daí nos perguntaram:
_Pra onde vocês vão¿
_E nós: Capadócia.
_Sim, mas vocês já estão na Capadócia, vocês tem que nos dizer qual vila...
_Capadócia. Não serve não¿
A sorte era que tínhamos um casal de espanhóis turistas como nós, e nos emprestaram um mapa com informações sobre toda a região. Eles nos aconselharam Goreme, e nos ofereceram ajuda, já que eles também ainda não tinham um hotel certo para ficarem e iriam procurar quando chegarem lá. Foi o que fizemos.
Praticamente todos os hotéis eram no mesmo estilo: rústicos, com quartos dentro da pedra. Escolhemos um com bom preço e que nos ofereceria ainda uma festa à noite, com churrasco e vinho da casa.
Não pudemos conter nossa empolgação. O lugar era simplesmente lindo e diferente de tudo que já vimos e sonhávamos ver. Entramos no quarto feito crianças, jogamos as coisas no canto e começamos a gritar e pular feito doidas, nos jogando na cama e fazendo aquela bagunça. Tiramos fotos, filmamos e não pudemos deixar de fazer vídeos pra matar de inveja todo mundo que ia assistir.
Deixamos nossas mochilas e fomos dar nossa primeira volta. O dia tava lindo, sem nenhuma nuvem no céu. O dono do hotel nos deu carona até um museu, com mais de 100 afrescos e igrejas construídas nas pedras nos séculos V e VI. A coisa mais impressionante, ver como os cristãos construíram suas casas e templos naquele tempo, se refugiando numa região completamente rochosa e fria. Podemos ver de perto uma das pinturas mais bem conservadas da figura de São Jorge, que nasceu e viveu lá durante muito tempo e é um dos santos mais famosos no Brasil.
Do lado de fora do museu, encontramos um camelo e claro que não perdemos a oportunidade de tirar fotos. Depois do custo pra subir no bicho, o dono queria nos cobrar R$20,00 pra cada uma mas, mais uma vez, usamos todo o nosso poder de persuasão e pagamos R$10,00 juntas. Voltamos andando para o hotel e famintas, passamos num restaurante no terraço de uma casa, onde pudemos apreciar a paisagem no fim da tarde e ainda comer panquecas com sorvete.
Depois chegamos no hotel, mortas. Como estávamos suadas, o quarto nos pareceu ainda mais frio. Fomos ligar o aquecedor e Tum! O negócio explodiu e a energia toda do lugar parou de funcionar. Ixi, pensamos, agora vamos ser expulsas daqui e ainda vamos ter que pagar pelo concerto de tudo. E a coragem de ir contar que fomos responsáveis pela falta de luz no hotel inteiro¿ Chegamos todas melindrosas para falar com o gerente, mas ele era mais gente boa do que imaginávamos e foi até o quarto, ele mesmo, para arrumar a nossa lenha. Por sorte não era só um pequeno curto nos fios, sem grandes problemas. Tomamos banho, dormimos, comemos churrasco, bebemos vinho e, é claro, dormimos novamente, como pedras.
Lição do dia: saber ao certo o destino que você pretende chegar, confiar em alguns estranhos quando não se tem outro jeito e pechinchar sempre que possível.
Fomos acordadas ainda de manhã cedinho com esmurros na porta. O gerente, que já nos apelidara de “singles laides” nos gritava loucamente e nos pedia que acordássemos. Abrimos a porta ainda muito sonolentas e ele nos disse que a vã da qual havíamos acertado um passeio sairia vem 20 minutos. Falamos que iríamos acordar, mas voltamos pra cama quase que imediatamente. Passados 15 minutos ele volta a bater, perguntando se estávamos prontas. Respondemos que ainda não e que provavelmente não iríamos. Estávamos tontas de sono. Ele, porém, afirmou que se não fossemos perderíamos o dinheiro do passeio e foi aí que levantamos num pulo.
Nos arrumamos correndo, colocamos tudo dentro das mochilas novamente e descemos. Como imaginávamos, uma vã cheia dos olhinhos puxados [sim, turistas de olhos puxados estão por toda parte e adoram uma excursão com guia turístico] nos esperava. Entramos no banco da frente sem nem coragem de olhar pra trás.
O guia entrou, se apresentou e quem foi a vítima da piadinha da rodada fomos nós, é claro.
A primeira parada foi um mirante, depois seguimos direto para uma cidade subterrânea de aproximadamente 1km² e oito andares, pra baixo da terra, logicamente. Não preciso nem contar a admiração que o lugar provoca nas pessoas, já que foi construído por volta do séc. II. Mas deixo bem claro que o lugar provoca medo também, um exercício de superação para os claustrofóbicos!
Depois disso, fomos conhecer um Quênia de 2 km de extensão. Um passeio delicioso às margens de um pequeno rio que passa entre os dois lados de paredão. Uma sensação de sossego, paz, uma vontade de ficar ali a tarde inteira pensando em nada, só ouvindo o barulinho doce da água.
Conversa vai, conversa vem, ouvimos um sotaque brasileiro e quando nos viramos, nos demos conta que tínhamos um compatriota no grupo [só depois de já termos falado batatinhas a rodo, achando que ninguém nos entendia]. O cara também era turista e estava morando em Lisboa junto com um monte de amigos latinos americanos que estavam com ele. É muito legal compartilhar experiências assim. Logo todos ficaram amigos e na hora do almoço a galera toda juntou as mesas e rolou uma super integração [coisa de brasileiro mesmo!].
Após o almoço, seguimos até um antigo monastério, construído nas pedras mais altas da região. Uma paisagem também impressionante.
De volta para o hotel, o que começou bem paradinho se tornou uma verdadeira bagunça, com trocas de e-mails e até palinhas de músicas. Uma excursão com guia até que é bem interessante. Gente de todo lado e figuras características. Quem já assistiu ao filme “Falando grego” sabe do que estou falando. Sempre tem o engraçadinho da turma, os bonitões pega geral, os atrapalhados, as velinhas viúvas e as bonitonas solteiras, no caso, nós nos encaixamos melhor nessa ultima categoria.
Chegamos ao hotel no fim da tarde, e esperamos até a hora de embarcar para mais uma viagem. Foi o gerente mais uma vez que nos avisou que estava na hora de irmos para a rodoviária. Foi só aí que percebemos que havia começado o horário de verão naquele dia, tínhamos acordado atrasadas por conta disso e perderíamos o ônibus também por causa disso.
Passamos 11h viajando até o nosso próximo destino.
Lição do dia: não ter preguiça de acordar cedo, um passeio com guia turístico pode valer a pena, conferir o seu relógio antes de sair é fundamental e nunca duvide que um brasileiro pode estar perto de você.
Chegamos em Efes logo de manhã. Ainda não tínhamos aprendido a lição por inteiro e não programamos nosso destino direito mais uma vez. O ônibus nos deixou no meio de uma estrada e não existia mais nada além de taxis. Um dos taxistas falava inglês e nos ofereceu um passeio pelos pontos turísticos da região. Estávamos a 1 km da entrada do parque e uns 7 km da cidade de Efes, onde tinha a cidade propriamente dita. Preferimos conhecer o lugar primeiro e depois ir descansar. Pedimos a ele para parar em um lugar com banheiro para trocarmos as roupas e lavar o rosto, íamos passar mais um dia sem tomar banho.
Depois de uma breve arrumadinha na cara de passadas, começamos a subir a serra em direção à casa de Maria. O lugar onde Ela passou, refugiada, seus últimos dias de vida. Um lugar tão gostoso, que transmite uma calma sem igual. Mesmo os turistas de outras religiões que estavam visitando o lugar, não deixavam de acender velas e fazer orações. Do lado de fora da casa, existe uma bica, onde muitos acreditam que a água é milagrosa. Não podíamos deixar de encher uma garrafinha pra levar pra família. E pra finalizar, deixamos nossos mais importantes desejos, escritos em folhas de papel, em um grande muro pedidos.
Seguimos para o parque de ruínas históricas do local.
O taxista nos esperou na saída e nos levou para a cidade de Efes, para procurarmos um hotel.
Mais uma vez usamos a nossa lábia para conseguir o melhor quarto, pelo mesmo preço do mais simples, já que estavam todos vazios. O gerente ainda nos perguntou se queríamos acompanhar a ele e um casal de amigos em um passeio até a praia, pra ver o sol se por. Como não tínhamos nada a perder, aceitamos o convite.
Na ida, paramos em um posto e o cara começou a comprar um monte de bebidas, e a única coisa que nos passava pela cabeça era: “onde fomos nos meter¿”
Estamos eu, Paula, o gerente, um amigo e mais o casal de americanos. Já na praia, eles fizeram uma mistura que ficou muito agradável ao paladar, mas que sabíamos que não poderíamos abusar.
Sentamos na areia, perto do mar, e por ali ficamos um bom tempo, conversando, enquanto o sol ia se pondo no horizonte. Cantamos músicas, ouvimos histórias, lembramos do passado e projetamos o futuro.
Quando levantamos, porém, nos sentimos levemente embriagadas e era claro que não podíamos contar e nem deixar transparecer isso. Já estava escuro, o gerente que nos levou tinha bebido o triplo do que a gente, e consegue-se imaginar o quão alterado ele estava. Apesar de bêbadas, estávamos sóbrias o suficiente para percebermos que era melhor voltar. Falamos que estávamos sendo atacadas por pernilongos e pedimos para voltar pro hotel. O cara concordou e felizmente conseguimos chegar no hotel em segurança. Fomos para a sala de televisão, compramos pizzas e ficamos por lá jogando mais conversa fora.
Estava tarde e estávamos cansadíssimas. Fomos para o quarto, mas ao invés de dormir, a bebida nos bateu ainda mais forte e ligamos o som na maior altura. E lá foram as duas doidas dançando e cantando dentro de um quarto de hotel.
Lição do dia: Planeje sua viajem e saiba o local de destino do ônibus que você pegou. Não abuse das bebidas alcoólicas.
Dormimos sabe-se lá que horas, e acordamos mais tarde ainda. Perdemos o café da manhã, e também não tínhamos destino certo. Decidimos ir pra Izmir, conhecida aqui no Brasil como Esmirna, uma das maiores cidades da Turquia.
Pegamos o ônibus e chegamos lá um pouco depois do almoço. Juro, tentamos procurar pontos turísticos, shoppings ou qualquer coisa que pudesse nos divertir, mas não achamos nada além de ruas e mais ruas movimentadas. Estávamos cansadas daquela maratona toda e resolvemos procurar o Buguer King mais próximo e nos deliciar com um super hambúrguer e muita batata frita. Como o ônibus de volta pra Kocaeli só sairia a noite, ficamos por lá um longo tempo, conversando e conversando.
Pegamos o ônibus de noite e fomos dormindo feito pedras. No meio da viagem, o motorista fez uma parada e estávamos morrendo de fome. Vimos um Mac Donalds do outro lado da rodovia e não tivemos dúvidas de que aquele seria o nosso lanche. Deixamos as mochilas dentro do ônibus, porque já estávamos de saco cheio de carregá-las e só pegamos as carteiras. Como disse a Paula, já estávamos “desapegando e entregando”.
Fomos correndo até a lanchonete, estava tudo escuro e deserto e não havia ninguém além de nós e os atendentes. Fizemos nosso pedido e voltamos. No caminho, um homem começou a fazer barulhos com se chamando a gente. Só conseguia correr ainda mais rápido e pedir a Paula para não olhar pra trás. Falava pra ela: “Paula, eu sei que você gosta de ser simpática com todo mundo, mas, por favor, não olha pra trás, não dá idéia.” E ela tentava acompanhar meu passo, cantando “segura na mão de Deus e vai...”
Chegamos na rodoviária finalmente, o caminho pareceu dez vezes maior do que na ida, o problema era que não tínhamos observado o lugar onde o ônibus estava parado, e nem sabíamos a cor dele. Ficamos desesperadas. Nossas mochilas, computadores, câmeras, tudo ali dentro. E se ele já tivesse ido embora e nos largado pra trás, naquele lugar cheio de homens turcos¿
Começamos a entrar em todos os ônibus, mas nenhum tinha as nossas coisas. Já estávamos pensando nas possibilidades de roubo ou abandono, quando um ser gentil se aproximou de nós e nos ofereceu ajuda. Falamos o nosso lugar de partida e de destino e ele nos apontou o ônibus certo. Não sei como não tínhamos o visto antes. Agradecemos trilhões de vezes e subimos correndo para conferir se nossas coisas estavam lá, e por glória divina estavam, intactas. Fizemos nosso lanche dentro do ônibus e dormimos novamente, como anjos.
Lição do dia: Saiba o que fazer, para onde ir e o que visitar quando você for parar em outra cidade. Lembre-se de verificar como é e onde parou o seu ônibus. Em situações de perigo, olhe para frente, corra, segure na mão de Deus, e vai.
Chegamos em Kocaeli umas 6h. Pedimos ao motorista que nos deixasse na entrada do bairro, já que era caminho. Já havia avisado minha mãe que chegaríamos de manhã e ela tinha me passado uma mensagem com o número do taxi para que pudéssemos pegar assim que chegássemos. Mas como já estava amanhecendo, decidimos pegar o ônibus. Porém, ele só passaria dali a uma hora. Resolvemos, então, ligar para o taxi, mas a bateria do meu celular tinha acabado, não tínhamos anotado o numero em nenhum papel e também não tínhamos cartão telefônico e muito menos orelhão para ligar pra um taxista ou pra casa.
Decidimos ir andando. Só não imaginávamos que o caminho era tão longo quando feito a pé. Estávamos cansadas, com mochilas que já considerávamos pesadas à aquela altura e com frio. Cada esquina que virávamos não víamos nada além de mais um trecho a ser percorrido, e para completar a história, ainda fomos paradas por militares que não falavam inglês e queriam nos interrogar, afinal de contas, o que duas loucas estariam fazendo àquela hora da manhã, andando por aquele caminho¿
Para nos distrairmos, começamos a cantar músicas que pudessem resumir tudo que passamos e distrair nossas pernas cansadas. Entram na lista “beautiful Day”, “tchubaruba”, “This is my life”, “Segura na mão de Deus”, entre outras.
Chegamos em casa depois de uma hora. Com o dia raiando pela janela. Não fizemos mais nada além de colocar pijamas e dormir por um longo dia.
Lição do dia: Não confie na bateria do seu celular, tenha sempre uma segunda opção, carregue um repertório de músicas para todas as situações. Corra perigos, passe por situações embaraçosas, viva cada momento e guarde todos eles na memória. No final, lembre de tudo e se divirta com tudo que passou.